28 de abril de 2012

atualização do meu status, no Facebook, de hoje

(esse texto foi uma atualização do meu status, no Facebook)


Otem, uma colega minha de faculdade, Iansã Pacheco Negrão, postou (aqui, no Faceboook) a frase: "eu tiro os óculos para desenhar. o traço dança e eu ouço a música feita de grafite e de papel". Foram os 74 caracteres mais contundentes que eu já li no Facebook. Minimalismo.
Quem conhece Iansã, sabe que essa frase revela sua alma, com uma sinceridade que tem a força de um soco. Iansã é exatamente isso: óculos, traço, música. Salvei a frase no Evernote e já li e re-li várias vezes durante o dia. Iansã não é poeta (pelo menos não oficialmente, pelo menos não que eu saiba), mas a poesia de seu post se recusa a abandonar meu coração. 

Essa intervenção deixou mais forte em mim uma inquietação que já vinha me consumindo. Eu me considero uma pessoal culta, feliz integrante de um círculo de amigos cultos, instruídos e informados. Porque então essas virtudes não estão expressas nessa ágora que é o Facebook? 

É raro alguém postar um conteúdo próprio, original, particular, que revele um mínimo que seja da personalidade de quem postou. As pessoas ficam se escondendo por trás de frases de autores famosos copiadas da internet, imagenzinhas copiadas da Internet, artigos jornalísticos copiadas da internet, vídeos copiados da Internet; e acima de tudo se escondendo por trás do clique no "compartilhar". É uma mixórdia de compartilhamentos das mesmas ideias, dos mesmos assuntos, das mesmas opiniões sobre os mesmos assuntos que abordam sempre as mesmas ideias. Os mesmos, os mesmos, os mesmos. 

Abro a time line e chove um festival de apoio, solidariedade, comoção: “Pinheirinho”, “Cotas Sim”, “Pataxó Hã-hã-hãe”. Todo mundo participando, todo mundo engajado, todo mundo unido na construção de um mundo melhor: um mundo onde não há divergência de opinião, não há debate, não há posicionamento, mas tão somente uma corrente modorrenta de lugares comuns.

Como eu gostaria de saber o que aquele meu amigo pensa, por que ele defende o sistema de cotas, a opinião dele sobre a relação do sistema de cotas com o projeto de país que nós — enquanto cidadãos — estamos construindo. Mas essa informação não surge, o particular não surge, não surge o indivíduo por trás do compartilhamento. Só a massa homogeneizada pelo pensamento dominante.

Seria medo de se expor? Seria falta de capacidade argumentativa? Seria preguiça? Não estou me colocando contra a copia ou compartilhamento, estou me colocando contra a redução de uma fantástica ferramenta de comunicação a uma experiência no mínimo enfadonha, a restrição da conversa à reafirmação do fluxo. Foi nesse sentido, Luciano Barreto de Matos, que eu postei pra você há algum tempo atrás: o problema não está no suporte, está no conteúdo, ou na falta dele.

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